Minhas mãos estavam tensas de não saber por onde começar. Parecia que todas aquelas recomendações, todos aqueles traços ensaiados simplesmente haviam se escondido em mim.
Segurei o lápis bem forte, no alto, como um imperador dando uma ordem ao papel.
O papel tão branco, árido de triste, deserto de neve refletindo no meu olho.
O grafite rasgou de leve, envergonhado, deixou um cinza,
cinzinha sujo, patético.
Meu punho largou. Não suportei a dor daquele cinza ridículo, daquele risco indefeso me ameaçando a integridade.
Peguei de novo o lápis, mais corajosa e menos amedrontadora, agora como um maestro, impinei o nariz mais alto do que o morro branco e fui.
Ataquei com um risco ríspido e seco, na gargalhada do inimigo, destemida. Consumindo o branco, jorrando sangue na geleira. E mais, e mais… até que o pecado se tornou prazeroso! Arranhei todo o véu sagrado com as unhas pretas e sem vergonhas, carbono sem dó, demônio do mais negro fervor.
Soltei minha adaga no ar. Sentindo-me leve, virei as costas para o papel.
Deixei ali o meu inacabado, o meu esboço de mim, o meu cuspe de medo, todos os segredos que se revelam em gestos. Imperfeito, sujo e mal resolvido pedaço de mim.