segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

eu estava naquela angústia que bate normalmente às 2h da madrugada.
virava de um lado pro outro da cama, mergulhando fundo no travesseiro mole, me afogando no omo guardado daquela fronha. should i call or not?
não sei, não sei! eu precisava dizer alguma coisa. eu precisava dizer um oi qualquer, com uma voz de sono fingido, de sonho forjado.
peguei o telefone no quarto escuro e ouvi o oco som surdo.
um eco do vazio da noite ali dentro.
should i call or not?
eu já estava suando. meus pés se contorciam debaixo do lençol de algodão verde. o verão abacate no suor do pé esquerdo, subindo pela perna, cortando todo corpo, até que!
apertei alguns números. o som metálico das teclas no escuro o som do escuro.
desisti.
toquei mais uma vez nas teclas, o pipipi divino. a chamada. ia desistir de novo, quando!
ouvi o som do chamado do outro lado da linha.
era então. pronto liguei. segurei firme o telefone e enfiei a cara envergonhada de mim no travesseiro. i called.
tuuu

tuuuuu

tuuuuuuuu

tuuuuuuuuuuuuu
soou quatro infinitas vezes.
e
ficou mudo
o tutututu deseperado desatinou.

segurei com ódio o telefone, defunto traidor e imprestável. um sopro nervoso e quente saiu das minhas narinas contra o pano.
hang up.
levei um hang up.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

coisas que eu tinha esquecido que gostava:

de elliott smith;
de andar de ônibus ouvindo música;
de chegar em casa.

domingo, 23 de novembro de 2008

há quase um ano, eu me sentia igual a hoje.

aquela expressão de abandono
o rasgar do abandono
ou simplesmente o abandono
assim sozinho
sozinho
o abandono de si
sem querer
mas sendo,
assim sem querer
abandonado

(escrito em dezembro de 2007. depois de uma visita ao tate, um café e uma caminhada na beira do river thames, sozinha)

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Sono

vou dormir o sono dos justos
justo eu, na injustiça do sono!
durmo no desossego do susto
na preguiça do bocejo
mudo no mundo do sonho
a dor que dormiu em mim
dream, mar de dream, madre sonho,
dói dormir assim

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

segunda-feira, 3 de novembro de 2008


Um Livro de Idéias:

Sempre tive idéias mirabolantes. Crio coisas na minha cabeça e fico imaginando elas acontecendo como se fossem coisas que já tivessem existido; aparecem na minha lembrança como passados já consumados. Porém, como sempre nada dessas coisas realmente acontecem e elas ficam como projetos mal resolvidos boiando na minha cabeça, pois nunca consigo concretizar até o fim um plano.
Foi em um sábado idiota, eu estava deitada na cama ouvindo a mais depressiva das músicas para um final de semana nojento, sonhando com instalações, fotografias, vídeos, performances e desenhos geniais (os quais jamais realizarei), que tive uma idéia! Era óbvio, porque não havia pensado nisso antes? Fazer um livro de idéias, claro, era tudo o que eu precisava! Um trabalho que é um livro onde eu anoto todas as idéias que eu tiver, crio maquetes desenhadas, faço todo o projeto para ser realizado por alguém com um pouco mais de iniciativa do que eu.
Porque o ponto que eu tranco é na ação, no preparar para agir, na preguiça de seguir em frente e de expor aos olhos alheios uma idéia normalmente capenga e quase incabível para o mundo. Mais uma vez vejo que a solução é exatamente esta, tornar o trabalho a idéia e me desprender da produção, deixando o outro, mais ativo e convicto, concluir o meu plano, criando assim um trabalho em conjunto onde não se sabe até que ponto o artista é idealizador ou feitor.
Um livro onde a minha passividade se transforme em atividade de alguém. Proporcionar um momento criador, de quase brincadeira, brincando de artista e se tornando um. Assim, o outro se apropriaria da minha idéia sendo autor como eu.

Indicações: Joseph Kosuth, Dário Ribeiro, Donaldo Shuler (ainda não sei porque), Hélio Oiticica (como sempre) e Cildo Meireles