eu estava naquela angústia que bate normalmente às 2h da madrugada.
virava de um lado pro outro da cama, mergulhando fundo no travesseiro mole, me afogando no omo guardado daquela fronha. should i call or not?
não sei, não sei! eu precisava dizer alguma coisa. eu precisava dizer um oi qualquer, com uma voz de sono fingido, de sonho forjado.
peguei o telefone no quarto escuro e ouvi o oco som surdo.
um eco do vazio da noite ali dentro.
should i call or not?
eu já estava suando. meus pés se contorciam debaixo do lençol de algodão verde. o verão abacate no suor do pé esquerdo, subindo pela perna, cortando todo corpo, até que!
apertei alguns números. o som metálico das teclas no escuro o som do escuro.
desisti.
toquei mais uma vez nas teclas, o pipipi divino. a chamada. ia desistir de novo, quando!
ouvi o som do chamado do outro lado da linha.
era então. pronto liguei. segurei firme o telefone e enfiei a cara envergonhada de mim no travesseiro. i called.
tuuu
tuuuuu
tuuuuuuuu
tuuuuuuuuuuuuu
soou quatro infinitas vezes.
e
ficou mudo
o tutututu deseperado desatinou.
segurei com ódio o telefone, defunto traidor e imprestável. um sopro nervoso e quente saiu das minhas narinas contra o pano.
hang up.
levei um hang up.
suspiro
Há 15 anos
2 comentários:
me afogando no omo guardado daquela fronha, um eco do vazio da noite, o som do escuro.
telefone traidor.
foi melhor assim
=)
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